Pesquisador e revisor estão focados na defesa da credibilidade da revista diante do exigente mercado das publicações científicas?
DOI:
https://doi.org/10.30795/scijfootankle.2018.v12.879Resumo
No último editorial foi destacada a importância de internacionalização desta revista, assim como o uso de normas bem definidas e mecanismos ágeis e modernos para a rápida publicação de material científico. Fica, no contexto, a preocupação em se construir um bom nível de conteúdo. Isto pede o resgate da tradição científica e a modernização (mas não a substituição) do método e das formas de revisão, desde as padronizações trazidas pelo experimentalismo até a inclusão tecnológica digital.
Num universo acadêmico cujo volume publicado transcende expectativas otimistas, surgem, a cada momento, novos periódicos ou novos portais científicos com alcance global e instantâneo. A modernidade é, segundo Zygmunt Bauman1*, líquida. A produção científica galopa. Mas o leitor procura pelo conteúdo de maior respaldo, reconhecendo que é impossível ler cada artigo publicado dentro da área do seu interesse. Ele escolhe e, com seu bom poder de discernimento, opta pela publicação útil e de melhor qualidade, deixando de lado o que é impertinente. Não é errado dizer que, publicação não lida é publicação perdida.
Moisés Naim2, em seu livro “O Fim do Poder”, constata que é cada vez mais viável a uma instituição burocrática competente atingir o seu melhor nível conceitual e conquistar espaço num meio em que já há instituições tradicionais e poderosas no mesmo segmento. As barreiras que detêm o poder das instituições maiores são cada vez mais frágeis. A era digital e a internet (a mobilidade), a quantidade de alternativas para um mesmo produto (o mais) e o preparo intelectual crescente (a mentalidade) ajudam a romper estas barreiras que preservam o poder de organizações tradicionais. Pelos mesmos motivos, uma entidade recém-ascendida pode perder o seu destaque facilmente. É o que este autor chama de a revolução dos três emes: do mais, da mobilidade e da mentalidade. Esta revista navega nesse mar de acontecimentos contemporâneos, onde o liberalismo econômico, por exemplo, se insinua, ainda que com atraso.
O grande volume de publicações acarreta, ao mesmo tempo, um viés previsível de grande variedade de conteúdo e também o aumento no espectro de sua qualidade metodológica, para mais e para menos. Esta nova realidade conclama participantes coerentes e cientes de seu papel para conduzir o “Scientific Journal” sobre a rota em mar tempestuoso de um mercado concorrido e exigente.
Pode ser difícil aplicar o que parece óbvio: o pesquisador precisa produzir material de teor pertinente, com boa qualidade científica e metodologia a toda prova; e o corpo de revisores deve corresponder com a mesma competência científica, ética e dedicação à produção que a ele chega. Portanto, torna-se importante questionar: como preparar, mobilizar, reciclar e aprimorar o pesquisador e o revisor, dentro de um contexto nacional, para protagonizar esta empreitada a “passos firmes” com bons métodos e ferramentas bem aplicadas?
- *Vide “Modernidade Líquida”, por Zygmunt Bauman, em que o autor, sociólogo polonês, refugiado da 2ª Guerra e radicado na Grã-Bretanha, considera a modernidade imediata "leve", "líquida", "fluida" e imensamente mais dinâmica que a modernidade "sólida", que teria sido destronada.
- Moisés Naím é um escritor e colunista venezuelano e, desde 1996, o editor-chefe da revista Foreign Policy. Tem escrito sobre política e economia internacionais, desenvolvimento econômico, organizações multilaterais, política externa estadunidense e as consequências não intencionais da globalização.
Carlos Fontoura Filho
Do Corpo de Revisores do “Scientific Journal of the Foot & Ankle”
Doutor em Medicina pela Faculdade de Medicina da USP em Ribeirão Preto
Professor Adjunto de Ortopedia e Traumatologia na Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Triângulo Mineiro
Resposta ao Professor.
Prezado Prof. Dr. Carlos Fontoura Filho,
Primeiramente, agradeço a sua apreciação.
Ao ler sua carta fiquei motivado pela certeza de que nosso trabalho está sendo trilhado com foco nas melhores práticas. Esforços significativos vêm sendo dispendidos para que nossos objetivos sejam alcançados.
Um aspecto interessante a se destacar é como os processos editoriais podem sofrer influências externas, mesmo nos ambientes científicos, onde deve imperar as condutas éticas de autores, revisores e editores. Praticar a medicina sob a égide da ética exige de nós médicos uma ampla vivência nesse ambiente social, moral e de constante atualização, muito além dos quesitos estritamente técnicos. Somos muito mais exigidos nos múltiplos aspectos das relações humanas, se compararmos às outras profissões. Devemos nos manter atentos a todos esses aspectos que regem os princípios de educação e formação dos jovens cidadãos médicos cirurgiões do pé e tornozelo.
Jorge Mitsuo Mizusaki
Editor Chefe